Decameron – pela Cia. Corpus in Cena.
Foto: Marcelo S. Lopes.
Tive a oportunidade de, por duas
vezes, assistir o espetáculo “Decameron – A Comédia do Sexo”, pela Cia. Teatral
Corpus in Cena de Rio das Ostras, sob a direção de Vivaldo Franco e a Produção
de Anna Carolina Magalhães. A primeira vez foi em sua estreia no Teatro Popular
de Rio das Ostras e a segunda, durante o X Festival Nacional de Teatro de Duque
de Caxias, que aconteceu de 23 de setembro a 06 de outubro do ano em curso, no
palco do Teatro Raul Cortez. Ao entrar no teatro a plateia é recebida pelos
atores caracterizados, mas, ainda sem seus personagens. Quando os atores sobem
ao palco e organizam seus adereços e objetos cênicos – malas, baú e tapadeira
móvel – criam um belo efeito ilusório de uma carroça medieval onde uma trupe
segue em direção ao próximo vilarejo. Daí vem à leitura de que aquela recepção,
livre dos seus personagens, é feita pelos artistas desta mesma trupe que
interagem com a população de um povoado que se aproxima para assistir ao
espetáculo. Busquei este entendimento, pois o mise-en-scène dos atores, por ser em tom particular a cada membro
da plateia, não esclarece bem essa intenção. A bela imagem da carroça que é
construída pelos atores, é brindada pela luz do competente Carlos Ribeiro (Carlão), que demarca dia e noite, além
de ser enriquecida pelo ritmo cadenciado imposto pelo movimento dos corpos
sobre a carroça. O texto adaptado de Mário de Oliveira destaca duas das 100 novelas
de Giovanni Boccaccio: a primeira; “Dionéio” – da quinta
jornada, Rainha Fiammetta e a segunda, Filomena, da sétima jornada, Rei Dionéio. Vivaldo Franco traz a cena essas histórias hilárias sem
apelos e sem cair na vulgaridade. Mantendo o tom medieval da obra escrita. A
cena do cigano bem dotado (Rennan
Magalhães) que vem servir a mulher mal amada (Verônica Arêas), na primeira novela, surge depois de um diálogo um
tanto demorado e redundante entre as personagens de Verônica Arêas e Armindha
Freire, em ritmo frenético e com marcas criativas e sugestivas sobre o baú que
compõe o ambiente. Os figurinos, de Lúcia Reis, seguem uma pesquisa estética e
que auxilia na construção do ambiente, provocando o distanciamento estético
necessário para a informação da época. Confesso que o roupão utilizado por
Rennan Magalhães na primeira novela me incomoda. Talvez por parecer ser utilizado
muito mais para provocar a graça da descoberta do principal atributo físico do
personagem (genitália avantajada), que
por estar inserido no contexto estético do espetáculo. No elenco estão:
Armindha Freire, Verônica Arêas, Adilson Lopes e Rennan Magalhães. Vivaldo
Franco, com essa montagem, oportuniza ao elenco a construção de mais de um
personagem tipificado para encenar as novelas, fato que não é aproveitado pelos
atores. Verônica Arêas é a que mais modula de um personagem para o outro. Outro
ponto que acredito poder ser resolvido de outra maneira é a tapadeira que no
início serve a construção da carroça, depois serve como painel de fundo para as
cenas. Este elemento cênico que é assinado por Lucia Reis e projetado por Lorenzo
Prucolli é funcional para o que se propõe, porém sem um acabamento estético
favorável. Como mencionei no início, vi o espetáculo por duas oportunidades, na
primeira o elenco era formado por cinco componentes. Apesar de estar bem no
personagem, no aspecto da história a ser contada, não percebi a necessidade
deste quinto elemento e pude perceber que na segunda oportunidade, o elenco
estava mais afinado e o ritmo do espetáculo mais próximo do ideal. Desta forma,
posso concluir que é um espetáculo que, naturalmente, vai crescer a cada
apresentação e que agrada, não só pelo tema abordado, mas também, pela
sensibilidade e sobriedade da direção e pela vivacidade do talentoso elenco,
assim que eles começarem a se divertir mais em cena.
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