domingo, 27 de outubro de 2013

Projeto de Teatro Institucional em Angola - Sonangol Ensina em Cena

Francisco Barros, Reynaldo Lisboa, Marcia Aicram, Honório de Polls, Vírgula Capomba, Guedes Ferraz, Ana Zé (deitada), July Capemba (de pé, não continuou no projeto) e Carlos António. Elinga Teatro - Foto: Marcos Venícius.
Bem. Anteriormente, em uma postagem, já falei pra vocês sobre o Documentário "Ulonga mu Kutonoca - Ensina em Cena". Quero falar agora sobre o projeto que deu origem ao documentário.
Em 2009 a Cia. Teatral da Antiga Capital Federal uniu-se a atores do Grupo de Teatro Nós em Meio ao Caos - assim formando o que chamamos de Núcleo de Criação Teatral -  para realizar um projeto solicitado pelo Consórcio Odetech, formado pela empresa nacional Odebrecht e pela Argentina Techint. Estas empresas uniram-se para a realização da obra do gasoduto que atravessaria municípios do interior do Estado do Rio de Janeiro (ver a postagem "Teatro Institucional. Boa Alternativa para Artistas e Empresas - 17/01/2010). Esta obra, pela sua natureza e amplitude, causaria impactos nas comunidades do entorno de suas atividades. Para informar as pessoas sobre a natureza da obra, seus impactos e sobre as medidas mitigadoras adotadas, foi criado um Projeto que utiliza a linguagem teatral como ferramenta didática.
Em 2012, após 8 anos de afastamento do Continente Africano - lá já havia estado no período de 2002 a início de 2005 - retorno a Angola para executar a função de Consultor em Planejamento Estratégico para a Coerência Comunicação e Imagem.
Empresa especializada em Comunicação Corporativa
Minha atividade se materializava, na prática, na construção de roteiros e direção de vídeos institucionais, elaboração de projetos de comunicação estratégica e elaboração de planos de mídia. No início de 20013, após já ter conquistado a confiança de um de nossos principais clientes - a Sonangol Logística - foi a mim externado pelo Assessor de Comunicação da Comissão Executiva desta importante empresa, a necessidade de uma proximidade maior com as comunidades afetadas pelas atividades e pela presença da empresa em suas áreas, devido aos riscos comuns ao setor petrolífero e também para que a estas fosse dado a conhecer os procedimentos de segurança e as medidas mitigadoras adotadas pela instituição estatal. De imediato lembrei da experiência que vivenciamos em 2009. Desta forma começa a acontecer em África o Projeto Sonangol Ensina em Cena. Os textos foram, por mim, elaborados, de forma a atender as necessidades da empresa. Para fazer a preparação dos atores e de dois funcionários da estatal, que não eram atores, para o desenvolvimento do projeto, convidei o Professor e Diretor Teatral, Fundador do Centro de Pesquisas Teatrais de Duque de Caxias, Guedes Ferraz. Este foi
Guedes Ferraz, Marcia Aicram e Reynaldo Lisboa
 auxiliado pela Atriz e Produtora Marcia Aicram, 
que além desta tarefa, também foi responsável pela implantação do projeto em Angola e suas devidas adaptações. Um projeto para ser realizado em âmbito nacional, em 16 das 18 províncias angolanas.
Quando se desenvolve um projeto para uma empresa, temos que apresentar os resultados, pois, além do prestígio e da imagem institucional, algumas cifras são investidas em sua realização. Além de conhecermos e acreditarmos no potencial da linguagem teatral como canal de comunicação, havia um ponto que nos tranquilizava quanto a apresentação de resultados; o projeto já havia sido posto em teste aqui no Brasil e, graças a Deus, aprovado. Costumo dizer que o mais difícil para a realização de um projeto teatral é o encontro de pessoas afins, comprometidas e disciplinadas para o fazer teatral. Deu-se um maravilhoso encontro de nós brasileiros com os atores angolanos: Vírgílio (Vírgula) Capomba; Ana Zé; Honório de Polls; Francisco Barros e Carlos António, estes dois ultimos funcionários Sonangol. Ainda tivemos a contribuição do Mwamby Wassaky - figurinista e da aderecista brasileira Lúcia Reis.
Mas, a qualidade do projeto e o talento dos artistas envolvidos não resolveriam a execução do mesmo se não fosse o cliente - Sonangol Logística -  comprar a ideia e a Coerência Comunicação e Imagem -  responsável pela prestação deste serviço, incluindo a criação e confecção de todas as peça de comunicação e brindes promocionais - por confiar, acreditar e viabilizar a realização do mesmo. Desta forma, agradeço a todos os envolvidos pela oportunidade de realizar algo tão significativo para minha carreira pessoal como para Angola, através das crianças alcançadas por nossas ações de intervenção teatral. Obrigado aos meus parceiros brasileiros, Marcia Aicram, Guedes Ferraz e João Bento que encararam este desafio e o superaram com muita dignidade. Obrigado Alexandre Salcedo (Coerência) por acreditar. Obrigado Sr. Pedro Costa Lima (Sonangol) Pela sensibilidade e ousadia. (as imagens abaixo foram captadas com smartphones)
Apresentação em Lucala - Kwanza Norte - cerca de 600 crianças
Estreia do Projeto em Luanda - 900 Crianças
Roll Up do Projeto
João Bento após apresentação em Malanje
Guedes, João, Francísco e Vírgula
Reynaldo Lisboa - captando Imagens
Deslocamento entre províncias. 
Cansados, mas olha o sorrisão da Marcia. Abaixo, 
vídeo de como fomos recepcionados em Lucala - Kwanza Norte

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Decameron – pela Cia. Corpus in Cena.



Foto: Marcelo S. Lopes.

Tive a oportunidade de, por duas vezes, assistir o espetáculo “Decameron – A Comédia do Sexo”, pela Cia. Teatral Corpus in Cena de Rio das Ostras, sob a direção de Vivaldo Franco e a Produção de Anna Carolina Magalhães. A primeira vez foi em sua estreia no Teatro Popular de Rio das Ostras e a segunda, durante o X Festival Nacional de Teatro de Duque de Caxias, que aconteceu de 23 de setembro a 06 de outubro do ano em curso, no palco do Teatro Raul Cortez. Ao entrar no teatro a plateia é recebida pelos atores caracterizados, mas, ainda sem seus personagens. Quando os atores sobem ao palco e organizam seus adereços e objetos cênicos – malas, baú e tapadeira móvel – criam um belo efeito ilusório de uma carroça medieval onde uma trupe segue em direção ao próximo vilarejo. Daí vem à leitura de que aquela recepção, livre dos seus personagens, é feita pelos artistas desta mesma trupe que interagem com a população de um povoado que se aproxima para assistir ao espetáculo. Busquei este entendimento, pois o mise-en-scène dos atores, por ser em tom particular a cada membro da plateia, não esclarece bem essa intenção. A bela imagem da carroça que é construída pelos atores, é brindada pela luz do competente Carlos Ribeiro (Carlão), que demarca dia e noite, além de ser enriquecida pelo ritmo cadenciado imposto pelo movimento dos corpos sobre a carroça. O texto adaptado de Mário de Oliveira destaca duas das 100 novelas de Giovanni Boccaccio: a primeira; “Dionéio” – da quinta jornada, Rainha Fiammetta e a segunda, Filomena, da sétima jornada, Rei Dionéio. Vivaldo Franco traz a cena essas histórias hilárias sem apelos e sem cair na vulgaridade. Mantendo o tom medieval da obra escrita. A cena do cigano bem dotado (Rennan Magalhães) que vem servir a mulher mal amada (Verônica Arêas), na primeira novela, surge depois de um diálogo um tanto demorado e redundante entre as personagens de Verônica Arêas e Armindha Freire, em ritmo frenético e com marcas criativas e sugestivas sobre o baú que compõe o ambiente. Os figurinos, de Lúcia Reis, seguem uma pesquisa estética e que auxilia na construção do ambiente, provocando o distanciamento estético necessário para a informação da época. Confesso que o roupão utilizado por Rennan Magalhães na primeira novela me incomoda. Talvez por parecer ser utilizado muito mais para provocar a graça da descoberta do principal atributo físico do personagem (genitália avantajada), que por estar inserido no contexto estético do espetáculo. No elenco estão: Armindha Freire, Verônica Arêas, Adilson Lopes e Rennan Magalhães. Vivaldo Franco, com essa montagem, oportuniza ao elenco a construção de mais de um personagem tipificado para encenar as novelas, fato que não é aproveitado pelos atores. Verônica Arêas é a que mais modula de um personagem para o outro. Outro ponto que acredito poder ser resolvido de outra maneira é a tapadeira que no início serve a construção da carroça, depois serve como painel de fundo para as cenas. Este elemento cênico que é assinado por Lucia Reis e projetado por Lorenzo Prucolli é funcional para o que se propõe, porém sem um acabamento estético favorável. Como mencionei no início, vi o espetáculo por duas oportunidades, na primeira o elenco era formado por cinco componentes. Apesar de estar bem no personagem, no aspecto da história a ser contada, não percebi a necessidade deste quinto elemento e pude perceber que na segunda oportunidade, o elenco estava mais afinado e o ritmo do espetáculo mais próximo do ideal. Desta forma, posso concluir que é um espetáculo que, naturalmente, vai crescer a cada apresentação e que agrada, não só pelo tema abordado, mas também, pela sensibilidade e sobriedade da direção e pela vivacidade do talentoso elenco, assim que eles começarem a se divertir mais em cena.

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Documentário: Ulonga mu Kutonoca

Ulonga mu Kutonoca é a tradução mais aproximada da Língua Nacional Angolana, Kimbundo, para a frase em português, "Ensina em Cena". Como em diversas outras línguas pelo mundo, a exemplo do inglês, o ato de encenar, interpretar, teatralizar, está diretamente associado ao "jogo" a "brincadeira". Ulonga = Ensina; mu = em; Kutonoca = Jogar, brincar, encenar. A fonte desta informação foram os próprios atores angolanos envolvido no Projeto Sonangol Ensina em Cena.
O Projeto foi desenvolvido pela primeira vez aqui no Brasil a pedido do Consórcio Odetech (Odebrecht/Techint) em 2009, com o objetivo de informar as comunidades impactadas pela presença da empresa sobre os riscos das suas atividades e os procedimentos de segurança adotados para atenuá-los.
O Projeto foi entendido por uma das subsidiárias da Petrolífera Estatal Angolana - Sonangol - como irrelevante para as suas necessidades.
A Sonangol Logística é a responsável pela armazenagem de combustíveis em Angola. Uma atividade que requer cuidados com a segurança e principalmente informação.
O Projeto Ensina em Cena utiliza a força da linguagem teatral para comunicar de forma mais contundente, porém lúdica, sobre os riscos e sobre os procedimentos de segurança adotados pela empresa e sobre a parcela de cuidados que cabe a própria comunidade.
O Teatro aqui é utilizado de forma didática para responder as expectativas da empresa e até superá-las.
O Projeto foi realizado no segundo semestre de 2013 e foi desenvolvido para atender 16 das 18 províncias angolanas.
Reynaldo Barreto Lisboa, autor do Projeto aqui no Brasil, também foi o responsável pela adaptação para o seguimento da empresa e para a realidade local, por já interagir com Angola há mais de 10 anos. Para implantá-lo em Angola, contou com a experiência e competência de Marcia Aicram e Guedes Ferraz. Marcia é atriz e produtora, que também participou da realização do Projeto aqui no Brasil. Fundadora da Cia. Teatral da Antiga Capital Federal ao lado de Reynaldo. E Guedes Ferraz, ator, diretor e pedagogo, com larga experiência em formação de atores. Fundador e diretor do CPT/DC - Centro de Pesquisas Teatrais de Duque de Caxias.
Para realizar o Projeto em Angola, foram convidados atores do Elinga Teatro e funcionários da Sonangol Logística, além da valorosa colaboração do talentoso figurinista Mwambi Wassaki.
Aqui no Brasil foi destinado as mãos talentosas de Lúcia Reis e seu Assistente Adilson Lopes, a confecção de adereços e bonecos.
Através dos depoimentos de alguns destes profissionais, o documentário mostra o processo de preparação e deixa claro o legado que fica com esta troca de experiências entre artistas brasileiros e angolanos.
A Realização do Projeto se deu através da Coerência Comunicação e Imagem. Por isso, nossos agradecimentos ao parceiro de longas datas, Alexandre Salcedo, a Osvaldo Sonjamba, David Neto e Emanuel Catolo, além do Assessor de Comunicação da Comissão Executiva da Sonangol Logística, Sr. Pedro Lima e o Sr. Mateus Romão. Grato a todos os envolvidos. Este documentário, além de revelar o processo de trabalho, revela o orgulho e a dedicação de todos envolvidos neste fazer tão gratificante.

Saudações Teatrais.