sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Ventarolar é Preciso.

No início do segundo trimestre de 2010 me vi, enquanto diretor de teatro, à margem de um deserto criativo . Das alternativas que a mim se apresentarão, debrucei-me - para ser poético - na escrivaninha a escrever. Foram quatro textos até meados de 2012. "A Estupenda Trupe da Grandiosa Jornada"; "Bicicleta e Girassóis"; "Eus" e "A Ferrovia que Cortava a Cidade". Graças a Deus os meus passos seguintes não foram em direção ao deserto. O contornei guardando na memoria sensorial, para criar defesas e nunca mais me aproximar deste cenário áspero e branco, o calor e a secura da garganta, além do peso que a areia fofa produzia em meus pés criando uma enorme dificuldade na caminhada. Neste novo momento o que objetivamos, mais que a construção do espetáculo, é a revitalização do próprio artista. Como em qualquer edificação o que vai determinar a resistência e a durabilidade do que se construiu é a base, a fundação, o alicerce. Como artistas constantemente nossas bases estão sendo testadas. Até então temos sido aprovados nesta "vistoria" natural da carreira artística. Entendemos que a arte é efêmera, mas enquanto o artista for produtivo e, de alguma forma, alcançar o seu público, ela se mantém viva. As dúvidas e as dificuldades do fazer teatral não podem nos fazer sucumbir. Se isto acontecer é por que a base não foi bem estruturada. É exatamente disso que o texto "A Estupenda Trupe da Grandiosa Jornada" fala. Ambientado na Europa de meados do Séc. XVIII, apresenta um casal de irmãos, artistas, que viajam entre províncias e povoados levando a sua arte e batalhado pelo seu pão. O texto reflete este conflito que permeia o universo criativo do artista soprando muitas vezes como brisa, outras como vento e até mesmo como tufão, como ciclone. Mas lá na base o teatro nos ensinou que *uma menininha pode se divertir na cacunda do vento. Sei que é difícil, mas depois de algum tempo nesta carreira temos que tirar proveito e fazer do vento nosso aliado para continuar. A receita é simples: basta saber *ventarolar. Saudações.


(*) referente ao texto "A menina e o vento" de Maria Clara Machado.